O Presidente de Angola, João Lourenço, elogiou hoje a visita do príncipe britânico Harry ao país e agradeceu o trabalho que a sua mãe, Diana, efectuou para dar “atenção global” ao sofrimento dos civis angolanos, fazendo o que o MPLA nunca foi capaz de fazer nos últimos 44 anos.
“A presença de Sua Alteza Real o Duque de Sussex em Angola, nesta semana, reflecte bem o espírito de optimismo que hoje alimenta o povo angolano. Angola agradece imensamente à sua mãe, Diana, Princesa de Gales, pela sua determinação em levar o sofrimento de civis angolanos, vítimas de minas, à atenção global em 1997″, refere o Presidente angolano, numa mensagem hoje divulgada.
João Lourenço referiu que as imagens da princesa Diana, quando visitou Angola em 1997, a prestar conforto a crianças amputadas, que foram vítimas inocentes do “efeito cruel e indiscriminado” das minas terrestres antipessoais, acabaram por “abalar a consciência do mundo e galvanizar o apoio internacional para proibir este tipo de artefactos para sempre”.
O Presidente referiu que, ao contrário de sua mãe, que teve que usar “um visor e um colete de protecção enquanto era escoltada pelos sinais de perigo de minas”, o príncipe Harry conseguiu hoje andar à vontade numa estrada asfaltada, no mesmo local, no Huambo.
“As crianças presentes naquela rua para cumprimentar o Duque de Sussex estão agora livres para ir à escola e brincar em segurança, um direito humano básico que foi negado a muitos dos seus pais”, salientou o chefe de Estado.
João Lourenço garantiu ainda que o país está determinado em acabar com os 1.220 campos de minas restantes, com o objectivo de cumprir o prazo de 2025 acordado com a comunidade internacional.
No documento, o Presidente lembrou o potencial que Angola tem a nível turístico e ambiental e alguns investimentos que têm sido feitos na desminagem de campos, como os localizados no sudeste do país, apesar de ainda existir muito trabalho por fazer.
“Em 1997, uma princesa britânica enfrentou a tirania de uma arma do mal que atrapalha a vida de milhões em todo o mundo. A minha esperança é que o seu filho tenha iniciado um renovado compromisso para desminar todos os países até 2025, não apenas por imperativos humanitários, mas pelo bem-estar e conservação de todo o planeta”, conclui.
O príncipe Harry chegou na tarde de hoje a Luanda, capital angolana, onde está previsto, no sábado, ser recebido com o Presidente de Angola, João Lourenço.
O duque de Sussex, que recebeu cumprimentos de boas vindas, no aeroporto internacional 4 de Fevereiro, da ministra de Estado para a Área Social, Carolina Cerqueira, e outras entidades do Estado angolano, não prestou declarações à imprensa.
De acordo com o programa de visita, Harry, que já visitou as províncias do Cuando Cubango e Huambo, e hoje teve uma recepção oficial oferecida pela embaixadora do Reino Unido em Angola, Jessica Hand.
O encontro com o chefe de Estado angolano acontece na manhã de sábado, seguindo-se uma reunião com a primeira-dama da República, Ana Dias Lourenço, para abordar a questão da VIH/SIDA em Angola, mais concretamente sobre a campanha “Nascer Livre para Brilhar”, liderada por si, que visa eliminar a transmissão do vírus à nascença.
O duque de Sussex iniciou na quinta-feira, no Dirico, província do Cuando Cubango, a sua visita a Angola, para apoio à desminagem, como o fez também, em 1997, a sua mãe, princesa Diana.
No Huambo, Harry percorreu alguns metros da rua 28 de Maio, um antigo campo de minas que Diana atravessou e visitou o hospital para as vítimas de minas do Huambo que a princesa de Gales visitou há 22 anos e que foi hoje rebaptizado como “Centro Ortopédico Princesa Diana”.
A visita a Angola insere-se num itinerário de dez dias, que começou na segunda-feira na Cidade do Cabo, África do Sul, onde chegou acompanhado pela mulher, Meghan Markle, e pelo filho, Archie Harrison, e de onde seguiu na quarta-feira para o Botsuana, sozinho.
Depois, Harry viaja para o Maláui, antes de regressar à África do Sul, onde, em conjunto com Meghan Markle, vai encontrar-se com a antiga primeira-dama Graça Machel (esposa de Nelson Mandela), concluindo a visita com uma audiência com o Presidente, Cyril Ramaphosa.
As verbas do Orçamento Geral do Estado para a desminagem diminuíram, assim como financiamento internacional. Estima-se que existam em Angola entre 40 a 60 mil vítimas de minas, número que o Governo quer apurar com mais rigor mas que, certamente, precisam do reforço orçamental que o Executivo diz não ter.
Angola tem ainda mais de mil campos minados para eliminar, mas perdeu cerca de 90% do seu financiamento internacional para combater o flagelo, o que torna mais difícil cumprir a meta de libertar o país destes engenhos até 2025. Sucedem-se, aliás, as metas, as promessas e as garantias por cumprir.
Em entrevista à Lusa, o chefe do gabinete de Intercâmbio e Cooperação da Comissão Intersectorial de Desminagem e Assistência Humanitária (CNIDAH), Adriano Gonçalves, assume o problema: “Há cerca de dez anos que vimos sofrendo declínios de financiamento à desminagem em Angola”, na ordem dos 90%, o que tem tido impacto directo nas actividades de limpeza de campos minados que tem sido “consideravelmente” reduzida.
Além da redução dos financiamentos dos doadores internacionais, que têm de acudir “a muitas prioridades” também as verbas provenientes do Orçamento Geral do Estado diminuíram bastante, penalizadas pela queda dos preços do petróleo em 2014, uma razão que tem servido às mil maravilhas para justificar tudo, até mesmo o que é injustificável. “Gostaríamos que a desminagem fosse feita com maior celeridade e maior intensidade”, admite o responsável.
Registe-se também que o Governo do Japão concedeu a Angola um financiamento de 940 mil dólares (762.909 euros) para projectos de desminagem e educação, no âmbito do Programa de Assistência aos Projectos Comunitários (APC) no país.
O embaixador do Japão em Angola, Hironori Sawada, assinou em 7 de Março de 2018, em Luanda, acordos de cooperação com as diversas Organizações Não-Governamentais (ONG) para executar projectos ligados às áreas acima referidas.
Um dos acordos foi assinado com a ONG Mines Advisory Group (MAG), que passou a dispor de 650 mil dólares (527.543 euros) para executar um projecto de desminagem na província do Moxico, no leste do país.
A ONG Ajuda Popular da Noruega (APN) recebeu um financiamento de 200 mil dólares (162.321 euros) também para um projecto de desminagem na província do Uíge, no norte do país, enquanto a Associação para o Apoio ao Desenvolvimento Comunitário (AADC) teve 90 mil dólares (73.000 euros) para a construção de quatro salas de aula numa escola primária da Kalossonga, na província de Benguela,
Na sua intervenção, Hironori Sawada disse que o Governo do Japão dá particular importância e prioridade à segurança humana, salientando que Angola é um país com enorme capacidade e potencialidade para crescer e se desenvolver em sectores como a saúde e educação.
Desde 1990, o Japão já apoiou Angola com 4,8 milhões de dólares (3,8 milhões de euros) em 16 projectos de desminagem, 1,4 milhões de dólares (1,1 milhões de euros) em 14 projectos no sector da educação, e um milhão de dólares (811.605 euros) em nove projectos do sector da saúde.
Folha 8 com Lusa